30 de setembro de 2010

As ruas e a música – Vol. 1



Por Tatiana Escanho

Que as ruas caminhadas no passado marcam a nossa história não é novidade. Mas elas também podem transformar-se em arte; ganhar melodia e voz. A estreia dessa coluna é mineira e teve sua origem nas memórias do músico Tavito. O muro do Colégio Sacre Coeur de Marie, na Rua Ramalhete, em Belo Horizonte, foi o pano de fundo para suas vivências e lembranças adolescentes. Ao som dos Beatles, Tavito canta suas saudades, marcadas por escritos antigos e bailes na esquina. O resultado é a canção “Rua Ramalhete”.
Músico autodidata, Tavito já tocou com grandes nomes da música mineira, como Milton Nascimento. Participou das apresentações de Vinícius de Morais em Minas Gerais e produziu discos dos artistas Marcos Valle, Renato Teixeira, Selma Reis e Sá & Guarabyra. Hoje, dedica seu tempo a composições, arranjos e publicidade.
Confira a letra:
Sem querer fui me lembrar
De uma rua e seus ramalhetes,
O amor anotado em bilhetes,
Daquelas tardes.

No muro do Sacré-Coeur,
De uniforme e olhar de rapina,
Nossos bailes no clube da esquina,
Quanta saudade!

Muito prazer, vamos dançar
Que eu vou falar no seu ouvido
Coisas que vão fazer você tremer dentro do vestido,
Vamos deixar tudo rolar;
E o som dos Beatles na vitrola.

Será que algum dia eles vêm aí
Cantar as canções que a gente quer ouvir?

Abaixo, vocês podem conferir algumas interpretações da música:

28 de setembro de 2010

O contador de histórias

POR: Ivan Brandão

Saindo um pouco da segmentação que acabou sendo feita por sermos muitos grupos constituíndo um só, segue um conto escrito por mim há dois anos atrás. Tem muita coisa a ver com o tema do blog e é uma forma mais lúdica de abordar o tema. Espero que gostem.


De quando em vez, ele vinha a meu encontro, tirava seu chapéu em sinal de reverência e me pedia fumo. Apesar de tratar-se de um apedeuta, foi o maior contador de histórias que o bairro viu. Nessa esquina da Glória imortalizada pela boemia mesclada entre a Zona Sul e o Centro, ainda existia esse tipo de gente, sem casa, parecendo que mora na rua, que é de todos afinal. E ninguém sabia seu nome. O chamavam apenas, Virgulino Lorota. Apesar de senhor, tinha energia de criança. Pele calejada pelo tempo, sorriso banguela e riso debochado, flamenguista doente. Nunca ouvi uma reclamação sair de sua boca. Dizia ele: - Problema todo mundo tem, e os meus problemas não interessam a ninguém -. Usava uma camisa do Brizola e o defendia como se fosse um verdadeiro cientista político, nunca vi igual. Contador de histórias que só ele mesmo. Pra pedir um café pro Antonio do bar era uma história, daquelas boas de ouvir. Para pedir carona pro Geraldo, motorista do 485, era outra história, daquelas que te pegam atrasado para o trabalho e mesmo assim, você escuta até o final perdendo completamente a hora. Apesar de estapafúrdias, as historias de Virgulino eram cativantes e nunca se repetiam. Às vezes mentirosa e engraçada, como a que conta o dia em que ele dormiu em cima da prancha na praia do Flamengo e acordou tomando um caldo em Pipeline no Hawaii. A que eu mais gostei foi a da vez em que ele e mais dois amigos, foram revistados por guardas municipais no Aterro. Sei que no final da história, deram um sopapo e roubaram as fardas dos pobres coitados. Trabalhou sete meses incorporando um cidadão, um tal de Sargento Noronha. Virgulino era uma piada.

Foi ficando famoso nos bairros adjacentes também, sua idade ninguém sabia, mas estipula-se entre 100 e 170 anos de idade, não se espante! Virgulino, só conhecendo pra saber. Nunca leu um livro e fala de poesias. Faz até sonetos improvisados. Diz que tomou cerveja com Machado de Assis, deu dicas de estilística à Lins do Rego e até brincou carnaval com Madame Satã, e se brincar que os dois namoraram, Virgulino nega, mas lembra com brilho no olho. Nunca foi à escola, mas conta histórias de um Rio de Janeiro onde a Avenida Rio Branco ainda era Avenida Central. Diz que lembra do Corcovado sem o Cristo e que ajudou Jesus a lá botar. Sempre trajando as mesmas vestes, chegava de manhã cedo e ganhava um café da manha do Antonio. Dois de pinga e um de limão. Dizia ele que sem um trago, não começava o dia. Houve quem pensasse que por viver embriagado sempre, era perigo para a vizinhança, mas nunca fez mal a uma mosca, tinha ele a malandragem e a inocência lúdica carioca. Cresci pedindo fiado no bar e não lembro de ter passado um dia sem ouvir um causo de Virgulino. E o tempo não passava pra ele. Continuava sempre com a mesma feição alegre, porém divagante. A mesma voz e o mesmo cantinho sujo ao lado da Cândido Mendes onde se aconchegava nas noites de frio. Já mais velho, passei a pagar o Antonio em dia, senão eu era alvo das fofocas da Lapa até o Santo Amaro. Virgulino passava, me via e tinha que pedir um cigarro. Ele afirmava com veemência que aquele era o único que fumava durante o dia e que só fumava porque era um cigarro meu. Não sei de onde ele tirou isso. O tempo de apagar o cigarro era o tempo em que ele me contava algum causo e ia embora para o Centro ganhar a vida. Cresci ouvindo seus devaneios sobre a vida que foi, a vida que é e a que será. Às vezes até sobre vidas que não existiram ou que existiram e ninguém sabe, só ele.

Dias atrás, acordei cedo, acendi um cigarro e não sei porque, havia um ar de tristeza. Desci, atravessei a rua e fui pedir meu café no bar. Cheguei lá e vi que estavam separados, um copo, uma Pitú e metade de um limão. - Cadê o lorota Antônio? – Perguntei por perguntar, mas era como se eu já soubesse a resposta. – O Virgulino não tá mas entre nós não meu rapaz, quando dona Juçara foi levar um cobertor pra ele hoje de manhã o coitado já não tava respirando, o rabecão saiu agora pouco. Acredita que encontraram a identidade dele? O nome do cara era José. Mais um José que se vai do mundo, nunca teve nada, morreu sem nada. Coitado.

Tomei meu café, acendi um cigarro e o deixei queimando sozinho, acendi um pra mim, traguei e fui-me embora. José, para nós, Virgulino Lorota, morreu sorrindo, disse dona Juçara, e nos deixou um vazio. Morreu com méritos por ter vivido o pão que o diabo amassou, ter morrido com um sorriso no rosto e a proeza de, nunca em sua vida, ter repetido uma história sequer. Levou-as consigo. Quem vive a vida na sua síntese, “Vida na vida” como ele dizia, muito mais tem a oferecer ao próximo, do que quem vive uma vida na sua casa, na sua empresa, no seu boteco. Virgulino viveu. Até hoje, ninguém desacredita que ele deve estar junto de outros grandes “Lorotas”, trajando um esporte fino na Academia Brasileira de Letras no céu, ala dos autodidatas sensorialmente diferenciados. A Glória nunca mais foi a mesma.

22 de setembro de 2010

Curiosidades sobre as Ruas de Botafogo.

CPOR: Rodrigo de Souza

Achei uma matéria superinteressante sobre as Ruas de Botafogo.
É do Jornal Laboratório da FACHA edição de Novembro de 2003.
De Talita Horn com colaboração de: Carla Silveira, Isabelle Resende Silveira e Vanessa Oliveira.


21 de setembro de 2010

Rua Barata Ribeiro

POR: Paula Antonello, Marcos Teixeira e Debora Vives


Inicialmente esta rua ia até a Rua Siqueira Campos. Depois foi-lhe incorporada a Rua Dr. Pereira Passos (trecho entre as Ruas Constante Ramos e Bolívar) e mais tarde, em 1926, foi prolongada até a Rua Djalma Ulrich.
A Rua Barata Ribeiro é um dos principais corredores de trânsito de Copacabana apesar de ser uma rua eminentemente residencial. Também é repleta de estabelecimentos comerciais e vários Hotéis, Apart Hotéis e Pousadas de fácil acesso tanto para o centro da cidade quanto para a Barra da Tijuca.
Cândido Barata Ribeiro, médico pediatra, nasceu em 11 de março de 1843 em Salvador, Bahia, filho de José Maria Cândido Ribeiro e D. Veridiana Barata Ribeiro (1843-1910).

Veio para o Rio de Janeiro em 1853 e matriculou-se no Mosteiro de São Bento, onde estudou o curso de preparatórios, residindo, por concessão especial, num quarto dessa casa conventual durante alguns anos. Como estudante lecionava preparatórios para manter-se. Havendo conseguido os preparatórios necessários, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde recebeu o grau de Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas em dezembro de 1867.
Em seu curso médico, foi interno de Clínica Médica e Cirúrgica e preparador do gabinete anatômico da Faculdade.

Depois de formado, passou a residir na cidade de Campinas, província de São Paulo, sendo nomeado Diretor do Serviço Médico e Cirúrgico do Hospital de Caridade da mesma cidade, onde clinicou e fundou a escola de crianças pobres. Em decreto de 10 de janeiro de 1874, foi nomeado Comissário Vacinador da província de São Paulo. Transferindo sua residência para a capital do Império, entrou em concurso destinado ao magistério da Faculdade de Medicina, sendo nomeado Lente Catedrático, em decreto de 25 de março de 1883.

Foi um grande paladino da abolição da escravatura e teve imensa atuação na campanha que implantou o regime republicano, como destemido propagandista de República. Com o advento do regime, ocupou o cargo de Presidente do Conselho Municipal, em 1891, e foi o primeiro nomeado para exercer o cargo de prefeito do Distrito Federal, em dezembro de 1892.
No exercício desse cargo, foi um grande iniciador de melhoramentos da cidade do Rio de Janeiro, que muito lhe deve, e onde deixou luminosa trilha de trabalho fecundo e inteligente. Intransigente de caráter e de impoluta honestidade, foi cercado sempre de consideração, até dos próprios adversários. Em decreto de 23 de outubro de 1893, foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, preenchendo a vaga ocorrida com o falecimento do Barão de Sobral; tomou posse em 25 de novembro seguinte. Submetida a nomeação ao Senado da República, este, em sessão secreta de 24 de setembro de 1894, negou a aprovação, com base em Parecer da Comissão de Justiça e Legislação, que considerou desatendido o requisito de "notável saber jurídico" (DCN de 27 de setembro de 1894, p. 1136). Em conseqüência, Barata Ribeiro deixou o exercício do cargo de Ministro em 29 do referido mês de setembro.
Em 30 de dezembro de 1899, foi eleito Senador pelo Distrito Federal, sendo reconhecido a 25 de maio do ano seguinte e exercido o mandato até 1909. Era membro da Academia Nacional de Medicina e de várias associações científicas.

Barata Ribeiro faleceu a 10 de fevereiro de 1910, na cidade do Rio de Janeiro, sendo sepultado no Cemitério de São João Batista. Foi casado com D. Ana Borges Barata Ribeiro.
Hoje em dia a Rua Barata Ribeiro é um dos endereços comerciais mais importantes de Copacabana abrigando todo o tipo de lojas, hoteis, restaurantes e prestadores de todos os tipos de serviços, além de milhares de unidades residenciais e um dos principais corredores de trânsito da zona sul carioca. Existe uma saída da Estação de Metrô Cardeal Arcoverde na Rua Barata Ribeiro em frente ao n° 181.