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16 de novembro de 2010

Uma rua pequenina no subúrbio carioca.

POR: Tamires Halak



Uma rua pequenina no subúrbio carioca. Uma rua escondida com um nome esquisito. Muitas crianças brincando e trabalhadores transitando. No seu fim tem uma pedreira, um grande morro de pedras que vai se desfazendo a cada dia. Toca uma sineta e já vem o “boom” das pedras caindo. Poeira.
Sua calçada não é livre; carros estacionados impedem o caminhar. É preciso andar pelo meio da rua. Carros param pra gente passar. Lá na entrada tem uma guarita, uma grade e um portão. Não é qualquer um que pode entrar, tem gente que toma conta dessa rua pequenina. Dessa nada indígena Rua Apinajé. Ela fica num engenho que outrora foi da realeza, o Engenho da Rainha.
Nessa rua suburbana, mora todo tipo de gente. Tem criança, velho e cachorro. Tem evangélico e macumbeiro. Maluco que acha que é o novo profeta e político que nunca ganha. Vendedor de bala, jornaleiro, lanterneiro de carro e dono de botequim. Vizinhança sortida, com seus quintais e janelas abertas. Tudo é motivo de festa, seja um jogo na TV ou o dia das crianças. Todo mundo se junta, bota música e instaura a alegria.
Tem uma gente mais metida, com seus carros e garagens. Casas grandes e empregadas. Entram sem um “oi”. Seus cachorros barulhentos  e  calçadas particulares. Não falam com ninguém, não abrem um sorriso, agem como se estivessem de passagem. Esquecem que são gente como a gente.
Minha rua amanhece bem cedo, ao longe se ouve um galo e já começam a acender as luzes de casa. Homens se arrumando para o trabalho, mulheres indo comprar o pão na esquina, crianças prontas para a escola. Logo se avista o moço do gás com sua buzina, o peixeiro com alto falante; o homem que vende utensílios de porta em porta. Depois vem o som da pedreira anunciando que mais um dia de trabalho está por começar. Boom, boom, boom! Chega a tarde e as crianças vem brincar na rua. Bola, amarelinha, bicicleta, boneca e pique. Aqui, crianças ainda são crianças. “Ó o cuscuz, o quebra queixo. Quem vai querer?”. Todo mundo sai pra garantir o seu pedaço. Então a noite cai e começam as novelas. Na rua reina o silêncio. Luzes se acendem, o cheiro que sai das panelas sobe  pelo ar. Ai a lua vem, anunciando mais um fim de dia no subúrbio carioca.