22 de novembro de 2010

Se essa rua ainda fosse a minha

Por Tatiana Escanho

O coronel Moreira César não é coronel da minha rua. Não exerceu seu poder militar nas pedras portuguesas em que pisei, mas não consigo pronunciar seu nome sem me transportar àquelas calçadas, à rua estreita e ao cheiro que carregou mais de 15 anos de união. Hoje, minha rua é outra e em nada lembra o aconchego daquela que amava. E é por isso que, ao escrever sobre a minha rua, voltei a que fez parte da minha vida.
As lembranças que povoam meus pensamentos são muitas; desde os domingos em que calçava meus patins e ia tomar sorvete às compras já adolescentes de roupas. Todas sempre com um gosto nostálgico para quem viveu tudo o que a rua tinha a oferecer às variadas idades. Posso dizer até que, por muito tempo, me bastava viver ali. A Rua Coronel Moreira César, em Icaraí, Niterói, foi o meu mundo até eu descobrir o restante dele.
Sua localização é estratégica; fácil acesso à praia, variado comércio e o meio do caminho para o caminho da maioria de seus moradores e frequentadores. As principais lojas ali se encontram, a melhor padaria (Beira Mar) e os principais edifícios comerciais do bairro (Shopping Icaraí e Trade Center). Aliada à praticidade, os tradicionais Bloco do Noel, em 24 de dezembro, e Bloco das Piranhas, dia 31 do mesmo mês, trazem o entretenimento. Mesmo não acontecendo na Moreira César, a celebração do Natal e os milhares de homens vestidos de mulher passam por ela festejando o fim do ano e deixam sua marca, regada a muito álcool e pouca educação.
Um centro urbano roubou a tranquilidade da época da minha infância. Mas não foi só a minha. Pâmela França Fernandes, administradora, de 26 anos, vive há mais de 20 nessa rua e sua história pode ser contada por ela. “Foi muito bom crescer ali, principalmente pelas amizades que fiz. Posso dizer que fui feliz morando ali durante a minha infância e agora na vida adulta esse sentimento continua”, diz Pâmela, que está à espera do primeiro filho. Apesar da satisfação, ela lamenta que a rua não seja mais a mesma. “Houve um crescimento urbano forte nos últimos anos. A população aumentou e, com isso, o trânsito e também a violência. A calma dos meus tempos não existe mais. Mesmo não almejando sair daqui, fico triste por meu filho não aproveitar a mesma liberdade que eu. É uma pena”.
Espero que a Moreira César ainda marque a vida de alguém como marcou a minha. Mesmo que isso aconteça com uma rua que não é mais a minha, mas, de repente, ela será a rua da história de alguém diferente.

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