Minhas ruas, outras vidasBlog Minha Rua

Por: Alexandre Martins

Sou carioca, mais moro atualmente em São Gonçalo. Onde nasci, em Campo Grande, o bairro onde morava (Santa Margarida) todas as ruas tinham nomes de tribos indígenas, era Tupasi, Tupinambá, Botucaraí, Tutoia, Bacaxá, etc. A minha "tribo" era a dos Coremas, tribo aguerrida e corajosa do nordeste paraibano.

Parece até estranho que, um bairro cheio de ruas com nomes de tribos indígenas tenha o nome de uma santa católica e que a principal escola do local (eu mesmo estudei lá) tenha o nome de um nobre, o Barão de Santa Margarida, que foi o senhor Fernando Vidal Leite Ribeiro. Este barão viveu e prestou serviços ao Império, e recebeu o título de Barão da própria princesa Isabel. Com a república, passou a trabalhar em cargos públicos.

O Barão de Santa Margarida

Porém, o mais interessante é que a sede de sua fazenda (Santa Margarida) ficava exatamente em frente de minha casa. Como o terreno era de cerca, e ficou fechado por muito tempo até ser vendido, eu e meus amigos na rua, brincávamos nas varandas do casarão e subíamos nas muitas árvores que existiam no terreno.

Porém, esses dias foram se passando e meu primeiro emprego me levou para a rua Aurélio de Figueiredo, no centro de Campo Grande. Aurélio foi irmão do pintor Pedro Américo e também tinha tons artísticos. Uma de suas obras mais famosas é A ilusão do terceiro reinado que podemos ver hoje no Museu Histórico Nacional.

Pintura "A ilusão do terceiro reinado"

O que torna a história curiosa é que, Aurélio de Figueiredo foi autor da letra do hino da Paraíba, a mesma terra da tribo dos Coremas, que dá nome a rua onde nasci.

Seguindo mais adiante, fui trabalhar em Nova Iguaçu, na rua Treze de Maio. Essa rua tinha esse nome, em homenagem ao dia da abolição da escravatura, assinado pela princesa Isabel, a mesma que deu a Fernando Vidal Leite Ribeiro, o título de barão de Santa Margarida. Algum tempo depois, essa rua mudou de nome e passou a se chamar Dr. Luiz Guimarães (médico que prestou bons serviços a Nova Iguaçu) em substituição ao nome do Hospital Geral Dr. Luiz Guimarães da Posse, para simplesmente, Hospital da Posse.

Tempos depois, fui transferido para Nilópolis e trabalhei na rua Pedro Álvares Cabral. Como todos sabem, é o conhecido "descobridor" do Brasil.

Pedro Álvares Cabral

Trabalhei em Nilópolis por um ano e meio, e lá fui eu transferido pela empresa (mais uma vez) para Copacabana. Ficava na rua Raimundo Correia. O maranhense, Raimundo Correia, foi um poeta parnasiano. Começou na literatura em 1879 e sua obra mais conhecida é "As pombas". Devido a isso, acabou recebendo um apelido do qual ele não gostava muito, "o poeta das pombas". Estudou Direito e tronou-se promotor chegando a juiz em 1884 e trabalhando no município de Vassouras. Talvez, Raimundo Correia em algum dia na vida, tenha se "esbarrado" com o Barão de Santa Margarida. Cerca de onze anos antes de falecer em Paris, Raimundo Correia viveu em Niterói.

Raimundo Correia

Ao receber uma proposta profissional, fui parar na Av. Graça Aranha e de novo, encontro outro maranhense e também graduado em direito. Graça Aranha foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras mesmo possuindo apenas uma obra de alguma importância, Canaã (1902). Ele apoiou o movimento Modernista e posteriormente devido a divergências com a Academia Brasileira de Letras, abandonou-a.

Graça Aranha

Nessas idas e vindas, fui morar em São Gonçalo, município vizinho do Raimundo Correia que viveu alguns anos em Niterói. Vivo na rua Thomaz Silva. Thomaz Soares da Silva é um personagem futebolístico, natural de São Gonçalo, ficou mais conhecido como Zizinho, ou Mestre Ziza do Flamengo. Ziza foi ídolo de infância do rei Pelé e deu muitas alegrias a maior torcida mundo, que por acaso faço parte. Assim como outros grandes ídolos rubros negros, bastava a torcida ouvir seu nome, para saber qual seria o placar.